De quando aceitei minha vulnerabilidade

REFLETE
3 min readSep 7, 2018

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E do quanto entendi que isso é ser forte

(Verena Smit)

É fácil falar. Fácil entender. Difícil é absorver e sentir a verdade. O semestre foi tumultuado internamente. Comecei a entender minhas sombras, o que me atormenta, lá por baixo, tipo aquela cutucada na cabeça antes de dormir. Comecei a limpar por debaixo do tapete. A responsabilidade é sempre minha — disse e repeti.

Falei sobre o semestre, porque esses últimos meses estão sendo o ápice. Mas o mergulho de cabeça no autoconhecimento começou mesmo em 2012, quando ouvi que seria interessante equilibrar minha energia yang. Eu já estava nesse caminho, tinha sido conduzida — de maneira não tão suave, mas fui. E, conforme os anos foram passando — 2013, 2014, 2015, 2016 — esse lado foi equilibrando com o yin. O ponto máximo e crítico foi quando quebrei o tornozelo, fiquei 4 meses sem poder pisar no chão, depois mais 3 meses imobilizada andando de muleta e entrei em uma lenta recuperação que, até hoje, envolve fisioterapia e RPG. "Pra realinhar o corpo, que muda todo, quando precisa voltar pro eixo". — simbólico? (Enquanto escrevo, percebo mais o que isso significa).

Faz muito sentido aquela história de “não aprende pelo amor, aprende pela dor." Nessa época, tive que aprender a pedir ajuda. Até porque não tinha outro jeito. Ajuda pra tomar banho, pra pegar qualquer coisa na cozinha e por aí vai. E entender que pedir ajuda é necessário e não é incômodo. E que o senhor do tempo manda na gente. Que é preciso, muitas vezes, desacelerar. Repensar. Ver se o que se passa em volta faz sentido pro que se passa dentro.

(Verena Smit)

Em 2017, já em recuperação e com os dois pés no chão, me deu o clique do que cada face representa: o masculino e o feminino. E agora o exercício é manter a balança.

Cresci com uma linhagem matriarcal muito forte, direta, agressiva e sozinha, em muitas situações. Demorei pra entender que firmeza não é bater de frente. Que ser independente não é ser sozinha. E que sinceridade não precisa machucar (esse passo eu comecei a dar lá na adolescência, quando fui entendendo a empatia. E cada dia caminho mais). Hoje marco o meu espaço dentro de uma ancestralidade que admiro, mas é diferente, em muitas coisas, do que acredito e quero. Construindo meu lugar, dialogo com quem veio antes. Reaprendo.

(Verena Smit)

Tudo isso me fez rever atitudes. Relações. Meus comportamentos. Estou introspectiva, escuta ativa. Tem dias que andar com um fone, a pé, pra casa, direto do trabalho, é a melhor coisa que posso fazer. Se o corpo pede descanso, deito. Não reluto. Se estou em dias mais desgastantes, faço um chá, um escalda pé, bordo. Tudo isso tem requerido sair de uma enorme zona de conforto. E a ansiedade bate forte, muitas vezes. Vem medo, insegurança, falta de "um lugar" que eu achava que era o melhor pra mim. Fica volta e meia um vazio. Me lembro em voz alta que ainda estou na fase de infraestrutura — mas, ainda? Quanto tempo leva? Com quase 40 e iniciando movimentos? Sim. Fecho os olhos. Mão no coração. Lembro e sinto: acredito no que não vejo.

Nesse processo, mudei meu fuso. Durmo bem mais cedo (antes de meia noite) e acordo quando o sol está batendo na janela, que voltou a ficar aberta. Se o descanso já cumpriu seu horário às 05h, aceito. Entendo. Medito, escrevo, sinto.

Respiro.

E cedo começo a ventar.

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