E do quanto entendi que isso é ser forte
É fácil falar. Fácil entender. Difícil é absorver e sentir a verdade. O semestre foi tumultuado internamente. Comecei a entender minhas sombras, o que me atormenta, lá por baixo, tipo aquela cutucada na cabeça antes de dormir. Comecei a limpar por debaixo do tapete. A responsabilidade é sempre minha — disse e repeti.
Falei sobre o semestre, porque esses últimos meses estão sendo o ápice. Mas o mergulho de cabeça no autoconhecimento começou mesmo em 2012, quando ouvi que seria interessante equilibrar minha energia yang. Eu já estava nesse caminho, tinha sido conduzida — de maneira não tão suave, mas fui. E, conforme os anos foram passando — 2013, 2014, 2015, 2016 — esse lado foi equilibrando com o yin. O ponto máximo e crítico foi quando quebrei o tornozelo, fiquei 4 meses sem poder pisar no chão, depois mais 3 meses imobilizada andando de muleta e entrei em uma lenta recuperação que, até hoje, envolve fisioterapia e RPG. "Pra realinhar o corpo, que muda todo, quando precisa voltar pro eixo". — simbólico? (Enquanto escrevo, percebo mais o que isso significa).
Faz muito sentido aquela história de “não aprende pelo amor, aprende pela dor." Nessa época, tive que aprender a pedir ajuda. Até porque não tinha outro jeito. Ajuda pra tomar banho, pra pegar qualquer coisa na cozinha e por aí vai. E entender que pedir ajuda é necessário e não é incômodo. E que o senhor do tempo manda na gente. Que é preciso, muitas vezes, desacelerar. Repensar. Ver se o que se passa em volta faz sentido pro que se passa dentro.
Em 2017, já em recuperação e com os dois pés no chão, me deu o clique do que cada face representa: o masculino e o feminino. E agora o exercício é manter a balança.
Cresci com uma linhagem matriarcal muito forte, direta, agressiva e sozinha, em muitas situações. Demorei pra entender que firmeza não é bater de frente. Que ser independente não é ser sozinha. E que sinceridade não precisa machucar (esse passo eu comecei a dar lá na adolescência, quando fui entendendo a empatia. E cada dia caminho mais). Hoje marco o meu espaço dentro de uma ancestralidade que admiro, mas é diferente, em muitas coisas, do que acredito e quero. Construindo meu lugar, dialogo com quem veio antes. Reaprendo.
Tudo isso me fez rever atitudes. Relações. Meus comportamentos. Estou introspectiva, escuta ativa. Tem dias que andar com um fone, a pé, pra casa, direto do trabalho, é a melhor coisa que posso fazer. Se o corpo pede descanso, deito. Não reluto. Se estou em dias mais desgastantes, faço um chá, um escalda pé, bordo. Tudo isso tem requerido sair de uma enorme zona de conforto. E a ansiedade bate forte, muitas vezes. Vem medo, insegurança, falta de "um lugar" que eu achava que era o melhor pra mim. Fica volta e meia um vazio. Me lembro em voz alta que ainda estou na fase de infraestrutura — mas, ainda? Quanto tempo leva? Com quase 40 e iniciando movimentos? Sim. Fecho os olhos. Mão no coração. Lembro e sinto: acredito no que não vejo.
Nesse processo, mudei meu fuso. Durmo bem mais cedo (antes de meia noite) e acordo quando o sol está batendo na janela, que voltou a ficar aberta. Se o descanso já cumpriu seu horário às 05h, aceito. Entendo. Medito, escrevo, sinto.
Respiro.
E cedo começo a ventar.