Promovendo a diversidade por meio do combate à desinformação
Dentre os termos mais falados nos últimos tempos, principalmente quando falamos de política, está a famosa “fake news”. Em uma boa tradução, mentira, boato, e não “notícia falsa”, porque, como Aurélio nos explica: notícia significa “informação sobre um acontecimento, um fato real.”
Enfim, inglês e português à parte (depois vai ter post falando sobre como termos adotados por aqui em outras línguas camuflam significados e distanciam entendimentos), conversei com a Viviane Rosa, da Eté Checagem, agência que tem como objetivo promover a diversidade por meio do combate à desinformação, atuando na área de gênero e direitos humanos.
REFLETE: Como surgiu a Eté?
Viviane Rosa: A Eté surgiu em maio de 2018 como um projeto de checagem de desinformação na área de gênero e direitos humanos, durante o período eleitoral. Por nossa experiência na área e em eleições, tínhamos a expectativa de que esse embate chegaria com força no Brasil principalmente nessas duas áreas. O projeto foi iniciado por mim e Leila Salim. E logo depois a Mariana Medeiros entrou. Hoje somos nós três que tocamos a Eté.
REFLETE: E como é feita a checagem?
Viviane Rosa: Fazemos uma busca ativa quase diária nas redes sociais. A partir daí, filtramos aquelas que tenham mais relevância social seja pelo seu conteúdo ou por afetar um número maior de pessoas. Assim, seguimos procurando dados, pesquisas, fontes oficiais e científicas para podermos checá-la. É um trabalho muitas das vezes árduo. A gente brinca que, às vezes, para checar um meme fazemos uma tese. O grande desafio é o tempo de checagem e a linguagem para atingir o mesmo público na mesma velocidade e amplitude que compartilhou a desinformação. É nesse sentido que estamos com o projeto de inteligência artificial.
REFLETE: Em quais frentes vocês atuam e qual hoje é o foco da Eté?
Viviane Rosa: A gente atua em três frentes: checagem, educação e novos projetos. Este último mais ligado à área tecnológica. Estamos desenvolvendo atualmente um sistema em que reconhece uma notícia já checada. Nesse exato momento, ampliamos nossa checagem para o COVID 19. Para isso, lançamos uma nota pública explicando porquê entraríamos nessa área. Para nós, diante do que estamos vivendo, é a temática de maior relevância, por isso resolvemos entrar nessa força-tarefa.
REFLETE: Pessoalmente, quais estão sendo suas reflexões durante essa quarentena?
Viviane Rosa: Em tempos de quarentena, tive mil sentimentos dentro de 30 e poucos dias. No início quis recuperar o tempo perdido e me inscrevi em mil cursos, separei dezenas de livros e filmes pra ler e assistir. Depois, bateu a estafa. Isso pessoalmente falando.
Tive de priorizar o que realmente importava, olhar para dentro mesmo. Até porque estamos psicologicamente afetados. Mas, o balanço geral, é que apesar do isolamento, o pensamento da humanidade tem que ser o coletivo. Ninguém é saudável sozinho, se protege sozinho, tem bem-estar sozinho. E isso inclui as pessoas e a natureza. Espero que a gente saia disso tudo com esse olhar para o outro e para o redor. Não adianta você ter grana para pagar o excelente plano de saúde, enquanto o sistema público de saúde não funciona. Precisamos olhar para além do nosso umbigo.