A associação EusouEu surgiu em 2017, após debates e encontros entre egressos do sistema prisional. Hoje, ela conta com 5 integrantes e sobre a sua atuação, conversamos com Bárbara Mariano, coordenadora de comunicação.
REFLETE: Primeiro, gostaria que se apresentasse, contasse um pouco da sua trajetória e seu envolvimento com o projeto.
Bárbara Mariano, EuSouEu: Meu nome é Bárbara B S Mariano, 41 anos, mãe, quase vó, militante, palestrante, coordenadora de comunicação da Associação EuSouEu — Reflexos de uma vida na prisão, egressa do sistema prisional carioca há 11 anos (sem reincidir), estou terminando a graduação em Jornalismo no final deste ano.
Sou fruto do incômodo com o “status quo”. Minha trajetória acadêmica começa em 2013, quando apesar de empregada numa facção como costureira, eu me indignei com o fato de estar naquela condição de trabalho, uma vez que via nas atitudes do dono do negócio deslizes absurdos, por falta de preparo para administrar o negócio. E, mesmo assim eu precisava me submeter àquela situação, pois eu precisava do salário para me manter. Resolvi voltar à escola, terminei o Ensino Médio no EJA. Saía do trabalho e ia direto para escola e, ao concluir, fui encorajada pelos professores a me inscrever no Enem. Fiz a prova em 2015 e consegui, na segunda chamada do ano de 2016, a bolsa pelo Prouni (100%) e ingressei no Centro Universitário Unicarioca, no Méier, zona norte do RJ.
Zapeando as redes sociais, li que a revista online ComTempo de SP recebia pautas colaborativas de alunos de jornalismo e enviei a sugestão, foi aceita e então precisava reunir fontes para abordar o assunto, foi então que minha professora Carolina Ferro fez a ponte entre mim e Caroline Bispo, co-fundadora da Associação Elas Existem — mulheres encarceradas. Segui em contato com ela, que me apresentou os meninos do EuSouEu e começamos a seguir juntos, desde 2018.
REFLETE: E como a EusouEu atua?
Bárbara Mariano, EusouEu: Ela atua nos seguintes pontos:
- Produção de pesquisas, elaboração de textos, produção de relatórios e geração de informações sobre o sistema prisional.
- Participação em estudos, aulas que tratem das questões penais.
- Inserção como palestrantes em eventos acadêmicos e jurídicos.
- Trabalho com egressos intramuros e extramuros, utilizando nossa experiência como projeto de mudança efetiva.
Hoje somos 5 integrantes, todos egressos do sistema prisional carioca:
Cristiano Oliveira — Coordena a execução e elaboração dos projetos (graduando em História)
João Luis Silva — Nosso articulador social (graduando em Direito)
Bárbara Mariano — Coordenadora da comunicação (Jornalista)
Joyce Gravano — Coordenadora Pedagógica e política (pedagoga e cofundadora2 do Frente Favela Brasil)
Erivelto Melchiades — Coordenador jurídico (bacharel em Direito)
REFLETE: Como são e quais são as capacitações que vocês oferecem?
Bárbara Mariano, EusouEu: Neste momento de pandemia, estamos atuando mesmo no front, levando comida e informação ao povo. Tivemos algumas ações em comunidades do RJ. Atuamos também orientando os egressos que saíram há pouco tempo da cadeia e os familiares de quem cumpre pena sobre onde ir para assinar seu benefício de LC, PAD, entre outros. Oferecemos orientação às famílias na Unidade em Benfica (José Frederico Marques), onde acontecem as audiências de custódia, prestando um pré-atendimento orientando essas pessoas para o atendimento com a defensoria pública.
REFLETE: Vocês têm parceiros, certo?
Bárbara Mariano, EusouEu: Sim. Hoje trabalhamos em parceria com a Associação Elas Existem, em um projeto pelo Fundo Brasil, em atuação com os egressos e seus familiares nesta situação de Pandemia. As parcerias se dão através do contato dos integrantes com outras instituições e firmamos esse elo. Às vezes temos cestas básicas e eles têm kits de limpeza, por exemplo, daí nos unimos e atendemos mais pessoas. O “nós por nós” e as redes sociais estreitam esses laços, pois muitos nos conhecem e oferecem ajuda através desses canais de comunicação.
Para acompanhar mais o trabalho deles, siga a EusouEu no Instagram.