O avesso do avesso do avesso (como diz Caê)
Avesso do avesso do avesso, como diz Caê, foi como me vi quando conheci o trabalho da Gloria Steinem. Ativista, jornalista, escritora e feminista, fundadora da revista Ms, ao lado de Dorothy Pitman Hughes, só soube da história dela esse ano.
Aí que começa o avesso do avesso.
Apareceu no meu feed uma imagem da Madonna, no protesto de Black Lives Matter. Ao lado dela, uma mulher com uma camisa que dizia: Angela & Maya & Audre & Gloria. Pensei: Gloria? Quero saber!
Assim, cheguei nela. E cheguei no livro Minha vida na estrada, onde ela conta todos os anos de jornada de escrita a leitura de discursos, tudo a partir da observação e escuta. Como amantes de boas histórias, ela ouvia motoqueiros e caminhoneiros em lanchonetes de estrada, conversava com alunos de faculdades de cidades pequenas ou virava noite em hotéis pensando em como organizar as ideias que chegam até ela, que tinha o papel de comunicadora e, muitas vezes, de porta-voz. As lições da jornada ela divide nas páginas, cheias de fatos que marcaram tantos anos de ativismo feminista. Uma aula de história e de paixão.
Algumas das tantas coisas que ela fez:
- Em 1968, ela ajudou a fundar a revista New York, onde foi colunista política e escreveu artigos importantes. Como redatora freelance, ela foi publicada na Esquire, na The New York Times Magazine e em revistas femininas, bem como em publicações em outros países. Ela produziu um documentário sobre abuso infantil para a HBO, um filme sobre a pena de morte por Lifetime, e foi tema de perfis no Lifetime e no Showtime.
- Foi a única jornalista que conseguiu se infiltrar nos bares da Playboy, como garçonete (também conhecidas como “coelhinhas”), sem que descobrissem sua real profissão. O artigo contando a experiência revela a situação degradante das moças, que precisavam passar uma aura de sofisticação mas raramente recebiam o salário prometido na publicidade dos clubes, eram estimuladas a sair com clientes vip, além de precisar passar por situações que violavam os direitos trabalhistas, como exame ginecológico admissional (desnecessário para a profissão de garçonete) e não receberem o uniforme completo. Além disso, as roupas eram desconfortáveis, muito apertadas, com barbatanas de aço machucando as costelas, e elas trabalhavam muitas horas seguidas em pé, usando saltos extremamente altos.
- Entre seus livros, estão bestsellers como Revolution from Within: A Book of Self-Esteem (traduzido aqui como A Revolução Interior), Outrageous Acts and Everyday Rebellions, e, na Índia, As If Women Matter.
- Ela ajudou a fundar a Women’s Action Alliance, um centro de informação nacional pioneiro especializado em educação infantil multirracial e não-sexista, e o National Women’s Political Caucus, um grupo que continua a trabalhar para aumentar o número de mulheres pró-igualdade eleitas e cargo nomeado em nível nacional e estadual.
- Além de ter ganhado diversos prêmios ligados a direitos humanos, o presidente Obama concedeu-lhe a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior homenagem civil.
- Em 1993, sua preocupação com o abuso infantil a levou a co-produzir e narrar um documentário de TV vencedor do Emmy para a HBO, “Multiple Personalities: The Search for Deadly Memories”. Com Rosilyn Heller, ela também co-produziu um filme original para TV de 1993 para a Lifetime, “Better Off Dead”, que examinou as forças paralelas que se opõem ao aborto e apóiam a pena de morte.
- Gloria foi tema de três documentários de televisão, incluindo Gloria: In Her Own Words, da HBO, e está entre os temas do documentário MAKERS da PBS de 2013, um projeto contínuo para registrar as mulheres que fizeram a América. Ela foi o tema de The Education of a Woman, uma biografia escrita por Carolyn Heilbrun. Ela também está
Para fechar esse avesso, ao mesmo tempo em que lia o livro, comecei a ver Ms America, indicada pela @vicvisco, e minha outra surpresa (eu não pesquisei sobre a série antes direito): fala de Gloria, da Ms, do movimento ERA, que pregava a igualdade legal entre os dois sexos e, junto, do movimento anti-feminista surgido na época, liderado por Phylis Schlafly (que, vale dizer, era feminista e não sabia). Mais uma aula.
Isso tudo é para falar que é coisa linda a gente revirar histórias. Conectar com as nossas. E saber que todo mundo pode ser ponto de partida e de vôo pra quem quer construir suas narrativas e compartilhar aprendizados.
E pra dizer: obrigada, Gloria.
Fontes: