Já saiu a Maína? Essa pergunta acontece todo dia 1 do mês, pelo WhatsApp logo cedo, vindas de vários amigos que me cercam. Porque a gente acredita no reflexo céu-terra e porque a gente sempre termina de ler a previsão dela e diz: "Você viu? Parece que ela sabe o que tá acontecendo com a gente."
Eu conheci o trabalho da Maína, online, há uns bons anos, depois de uma reportagem que falava sobre astrólogas. Cliquei e nunca mais parei de acompanhar Mapeando, onde ela coloca mensalmente suas previsões. Gostei de cara do jeito objetivo, leve e coerente com que ela tratava os astros e suas relações com cada signo, um jeito diferente do que eu estava acostuma a encontrar na rede.
Hoje, o site dela ganha nova roupagem e um direcionamento lunar. E a Mainá vai além dos astros. Tem dois livros publicados, estuda tarot e promove também encontros e retiros. O REFLETE conversou um pouco mais sobre isso tudo com ela.
REFLETE: Sei que você estuda astrologia há muito tempo. De onde veio seu interesse pelos astros? Me conta um pouco da sua relação com o assunto e quando ele entrou de vez na sua vida? Teve algum “clique” para esse mundo?
MAÍNA MELLO: Foi minha tia que me iniciou no conhecimento astrológico. Eu tinha sete anos e estava animada com as aulas de ciência sobre o sistema solar e ela encontrou ali a deixa pra começar a me ensinar. Ela já tinha visto no meu mapa astral que eu seria uma grande estudiosa sobre os mistérios e que teria talento pra astrologia. Foi a grande descoberta da minha vida!
REFLETE: Tenho a percepção de que cada vez mais pessoas se interessam por astrologia e, a meu ver, tem ligação com, em meio a tantas notícias desestimulantes, achar sentido no que não é visto, mas “está ali”. Ao mesmo tempo, sempre comento com amigos que, se lá antigamente, reis não davam seus passos sem consultar oráculos e mapas, hoje muitos zombam das leituras e previsões. A astronomia, quando separada da astrologia, tirou esta do campo da ciência. Há uma maneira mais “racional” de explicar por que a astrologia funciona?
MAÍNA MELLO: Acho que estamos chegando perto de explicar muitas ciências espirituais e ocultas com a física quântica, que é a ciência da energia que cria tudo no universo. Falta pouco pra explicar alguns fenômenos de acordo com a perspectiva quântica. Mas, todas as leis herméticas se enquadram na Astrologia: “O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora”. Nesse sentido, nosso mapa astral é um reflexo do sistema solar no momento do nascimento. O Saturno de fora reflete o de dentro.
REFLETE: Como acontece com tudo que fica em evidência, em algum momento algumas áreas, palavras, comportamentos e seus sentidos são deturpados. Acontece com yoga, com palavras (gratidão), com alimentação… O que mais você acredita que deturpa a astrologia hoje? E se pudesse usar um argumento para mostrar sua importância e força, qual seria?
MAÍNA MELLO: Não sou nada conservadora, acho natural que a linguagem astrológica se adapte a cada tempo, é uma linguagem simbólica afinal. Hoje temos as redes sociais, e nelas fui pioneira com o meu blog Mapeando, não porque publicava diretamente nas redes (em 2011, quando lancei era o Facebook, ainda não havia o Instagram), mas porque super aproveitei o recurso pra compartilhar o link e meus horóscopos ganharam o mundo assim.
Agora temos os memes, e eu me divirto, embora não faça horóscopos baseados neles como outras astrólogas. A crítica que eu faria é que acho que acabou por rolar um excesso de informação astrológica circulando, e muito é mais do mesmo.
Veja bem, eu venho estimulando a popularização da astrologia com o meu site há oito anos, compartilhando informação detalhada porque ela precisa chegar a todos. Mas, quando digo que há demais do mesmo, é que tem muita gente que mal fez um ano de curso e já está lá compartilhando conteúdo e oferecendo consultas. Isso eu não acho legal, não. Embora a pessoa possa ter talento e, hoje, a gente possa aprender as coisas mais rápido, a prática profissional da astrologia continua sendo da mais alta responsabilidade, porque você pode interferir no destino de alguém. Acho que tem que estudar muito, e não apenas astrologia, como outras matérias relacionadas, história, psicologia, filosofia, arte, física quântica etc. Pra começar a oferecer serviços é preciso um pouco mais de tempo de estudo que isso e alguma experiência orientada por um profissional com mais experiência que você. No Instagram, há milhões de perfis que usam o mesmo formato pra falar de céu do dia, esses são os mais seguidos. Pra mim, um ou outro se destaca pela qualidade do conteúdo, mas acabou que ficou padronizado o tipo de perfil astrológico de “sucesso” nas redes.
REFLETE: Quanto de livre arbítrio existe em um mapa?
MAÍNA MELLO: Você ter nascido com tal configuração é destino, o que vai fazer dela é livre-arbítrio, na medida da sua consciência. Temos também que ter consciência de que vivemos em rede — as escolhas dos outros afetam nossas vidas também. Grande parte das nossas escolhas e ações ainda é muito inconsciente.
REFLETE: Muita gente caracteriza pessoas pelo signo e a “fama” que cada um tem (exemplo: “Virginiano? Nossa, tem mania de arrumação!). Mas, quando fiz o mapa, fiquei bem ciente de que é uma engrenagem grande, que gira com a gente e nos faz ser quem somos. Os signos têm mesmo essas características marcantes que podem ser tão presentes?
MAÍNA MELLO: Ah, hoje tem se criticado muito a popularização da astrologia como a propagação dos estereótipos dos signos. Bem, os signos são arquétipos, ou seja, são modelos e têm sua própria energia. Virgem, por exemplo, é caracterizado pela análise, pelo método, pela crítica, seletividade e organização. Tem a ver com arrumação, sim, mas, como todos os signos têm luz e sombra, às vezes, você vai ver a manifestação de Virgem como o oposto e a pessoa ser totalmente desorganizada. Ou nem se preocupar tanto com isso, mas aí você vai ver a mente dessa pessoa e está tudo esclarecido lá.
REFLETE: Em seu primeiro livro, Encontros Astrais, você explica muito o porquê temos que, para saber de amor, saber mais sobre nosso sol, lua, vênus e/ou marte, além de Lilith. Por que Lilith ficou/fica fora de algumas leituras de mapas e o que ela representa?
MAÍNA MELLO: Encontros Astrais é sobre o amor e o sexo dos signos e que tem um capítulo sobre Lilith. Mas Lilith ainda não é considerada por todos os astrólogos em suas leituras, infelizmente. Não é porque sua descoberta é relativamente recente (1930), porque Plutão também foi descoberto nessa data, e outros, como o asteróide Quíron, foram descobertos depois e são mais utilizados. É mais porque ela não é um corpo celeste, pois não tem nenhuma massa. Ela é um ponto vago na órbita lunar ao redor da Terra, o segundo centro dessa elipse que sustenta a órbita da Lua junto com a Terra. Então ela tem um magnetismo misterioso.
O que Lilith representa é difícil para as pessoas compreenderem. Ela é um instinto, que relaciono à libido. Esse lado selvagem da nossa natureza, feminino e sexual, indomável, insubmisso, que foi reprimido durante milênios de civilização. Ela chega pra nós como uma sombra, pelo lado obscuro do inconsciente, e temos medo do que não temos controle. O lance é que precisamos integrá-la em nossa psique pra que essa força não se volte contra nós. Ela aparece nas relações, homens e mulheres a têm no mapa astral. Onde temos Lilith precisamos ser mais fiéis a nós mesmos, o que exige uma negociação delicada nos encontros. Lilith é liberdade!
Eu precisava tanto falar mais sobre ela que escrevi um romance dessa vez, o meu novo livro Efeito Lilith, que acabei de lançar. Achei que precisava contar o que ela representa em nossas vidas através de uma história, então criei essas personagens contemporâneas envolvidas em um triângulo amoroso que de certa forma remetem à experiência de Lilith como primeira mulher de Adão no Paraíso.
REFLETE: O Mapeando mudou de visual e está lindo! De onde partiu o desejo dessa mudança, trazendo ainda mais destaque para as lunações? E conta mais também como é trazer uma análise a partir da lua? O que muda?
MAÍNA MELLO: Então, isso veio com a minha experiência de corpo e de alma com as lunações e a descoberta do nosso poder de manifestação de intenções! Senti necessidade de compartilhar esse conhecimento não apenas nos horóscopos, agora feito seguindo os ciclos de lunação, como oferecer no próprio site o recurso pra esse mapeamento, com a Mandala da Lua disponível pra baixar. Essa é uma forma de reconexão entre o céu e a terra: os ciclos de lunação são nosso ritmo de manifestação, de uma semente que plantamos na Lua Nova, alimentamos na Crescente, colhemos na Cheia e preparamos o solo pra mais uma semeadura na Minguante. Essa reconexão preenche a vida de sentidos muito mais plenos. Nosso corpo é nossa terra. Quem menstrua pode acompanhar o ciclo de lunação integrado ao seu ciclo menstrual e isso é muito potente.
REFLETE: Sempre fecho pedindo que as entrevistadas indiquem 3 mulheres que admiram e diga porquê elas as inspiram. Quem te inspira?
MAÍNA MELLO: São tantas mulheres fodas nesse mundo, minha deusa! Mas como estou totalmente envolvida com a literatura por causa do lançamento do meu novo livro Efeito Lilith, vou citar mulheres escritoras.
Clarice Lispector, sagitarianíssima, que eu conheci ainda adolescente e que tanto me inspirou com seu fluxo de consciência, até hoje me espanto com sua sabedoria intuitiva, que mulher!
Hilda Hilst, taurina que chegou pra mim mais tarde, mas que me pegou de jeito no erotismo e pela liberdade que se concedeu em forma e conteúdo também em vida, um exemplo! Assim como ela, fico besta quando me entendem.
Clarissa Pinkola Estés, aquariana visionária que sempre volto a reler no Mulheres que correm com os lobos, pra me inspirar no poder transformador de uma boa história. Só amor!
Ah, e se você não sabe, ela é super centaura, com cinco planetas em sagitário. Pro alto e avante, Maína!