Uma série sobre (se) olhar duas vezes
Conheci a Jow tem um ano e meio e sagitarianas que somos nos encontramos em ataques de sinceridade e em risadas de um humor meio infantil, meio sarcástico. Dali, foi um pulo pra trocarmos mensagens de cumplicidade e nonsense por whats app. A Jow é minha amiga mais nova. Mas daquelas que você sabe que a alma percorreu muitas brumas e que está aí pra te ensinar.
Você é nova e te considero muito sábia. E também corajosa e firme. Como você vê o seu despertar pro feminino… como ele aconteceu?
Falar de despertar feminino é um pouco complexo. Permeio em dois meios que considero completamente diferentes! Caminho entre mulheres que são muito diferentes em seus modos de vida, condições sociais, formas e jeitos, mas que, quando inseridas no mesmo meio que o meu, tendem a carregar ideais de vida similares onde podemos comentar sobre os “arranhões” que nós mulheres sofremos no dia a dia e sobre uma grande onda de pensamento agressivos sobre o qual raras vezes paramos para pensar e questionar. Ao mesmo tempo, sofro um choque de pensamentos, quando me curvo ao meio no qual sou formada.
Dentro da área da saúde, é muito normal o diálogo retrógrado e, muitas vezes as pessoas nem percebem. Para “piorar” meu processo de reconstrução pessoal, estou inserida em um meio voltado para a estética. E, nele, podemos falar sobre algo que muda a vida de uma pessoa, através de processo restaurativo, ou simplesmente falar de uma máquina de corpos perfeitos e pele de eternos 20 anos. É difícil mesclar esses dois mundos, pois acredito que todas as pessoas são bonitas e não precisamos ficar na corrida incessante de um estereótipo vendido.
E você sempre teve essa noção de que o feminino engloba o olhar para o todo e esse cuidado e amor para o outro?
Acho que o maior choque que levei na minha vida sobre a beleza, o feminino e como guiar esses temas foi quando estive em uma casa de banho árabe conhecida como Hammam. Lá, você entra em uma sala feita com pisos de pedra e com grandes piscinas. Os banhos são divididos entre homens e mulheres e, quando entrei pela grande sala de banho árabe feminina, fiquei perplexa com um misto de “o que é isso”, com uma sensação de loucura positiva. Mulheres andando para lá e para cá falando em diversos idiomas, sentadas em nichos coletivos fazendo esfoliação no rosto, corpo, pé, enquanto seguiam para se banhar naquelas grandes piscinas coletivas e todas estavam nuas, incluindo eu. Diferentes formas de corpo, sem nenhum pudor, realizando o que chamamos de beleza, cuidado consigo e etc. Após essa grande vivência, você ainda pode seguir para a área de massagem onde fica por 2 minutos, em um momento único de aperta aqui e ali. Inicialmente, como uma boa ocidental, eu pensei que era pouco higiênico e que estava vivendo em um estilo de mundo paralelo onde corpos, formas e jeitos eram ignorados por todos, mas, depois, eu vi algo além, a beleza deste ser conhecido como mulher e sua forma única com o tratamento do seu corpo. Ali eu tive meu maior ensinamento sobre o que consideramos uma forma de pensamento mais feminina. Digo-me constantemente que todo ser é lindo e não precisamos comprar estereótipos.
Qual mulher é seu exemplo-guia, de vida?
Meu maior exemplo sobre o feminino e sobre as formas que moldam a mulher é minha mãe, Helena D´Arádia. Vivemos coisas únicas durante nossa vida. Uma mulher que viveu o câncer de mama e que, após uma mastectomia, me disse que não iria fazer a reconstrução, pois se enxergava bem no espelho. Uma mulher que acredita que, quando você se olha no espelho e se acha completa, pouco importa o que o mundo externo acha. No início eu compreendi parte do seu pensamento, mas me perguntei sobre sua vida amorosa e o choque perante a mutilação de uma parte do corpo tida como feminina. Ela me respondeu, amorosamente, que, se alguém ficasse com ela somente por um seio, não era o alguém ideal, pois o verdadeiro amor e companheirismo não parte pelo corpo, mas pela alma e pelo o que ela representa como pessoa. Fiquei feliz em perceber o meu pensamento torto, ter a oportunidade de viver com ela e perceber a reconstrução da mulher que me inspira diariamente em todos os âmbitos da vida!
