OLHA PRA VOCÊ: Tatu Damberg

REFLETE
4 min readOct 27, 2018

--

uma série sobre (se) olhar duas vezes

Você tem que conhecer a Tatu! Ouvi isso de duas amigas que amo e entendi que era ordem. Nos conhecemos num dia de 42 graus, banho de mangueira na laje, comemorando o aniversário de uma das amigas. E, desde então, trocamos, dividimos, nos confortamos e rimos — bastante. É ela quem mima em todas as minhas idas a SP, com as mais especiais iguarias (sim, ela é a melhor food stylist e cozinheira do mundo).

Além de conhecer a Tatu, faço um adendo: é necessário conhecer a Alice, a pequena que cria músicas para aguentar vontades apertadas de fazer xixi enquanto se está numa fila, com a mesma facilidade que constroi playlists que envolvem músicas da Disney, Fred Astaire e Sepultura e que animam nossos cafés da manhã.

Bom, é a Tatu está hoje no OLHA PRA VOCÊ, que eu transcrevo abaixo.

REFLETE: Admiro o jeito com que dialoga com sua filha, em uma relação gentil e honesta. Queria que me falasse mais sobre as suas descobertas nesse tempo de maternidade, como mãe e mulher. E o que gostaria que a Lili crescesse sabendo sobre o universo feminino.

É muito louco isso de maternidade. No momento em que você se torna responsável por uma vida além da sua própria as suas certezas não tem mais tanta importância e tudo vira relativo, o que for melhor para o futuro da prole é a lei. Às vezes me pego repetindo coisas que minha mãe dizia, e preciso parar e questionar e ver se aquilo ainda é válido e se é algo que quero passar para frente, que minha filha precisa saber ou não. Ela está entrando na puberdade e agora vejo essa grande mudança, os cuidados que tenho com ela não são mais físicos, são emocionais. Ela sabe o que machuca o corpo dela e o que ela deve evitar (fogo, facas), mas está começando a perceber o que machuca por dentro: as relações sociais, afetivas, a evolução pessoal. Nessa posição de apoia-la nessas questões tenho crescido também, por que muitas das questões delas são minhas também. Espero estar ensinando — e aprendendo — a passar pra frente força e independência.

REFLETE: Como é para você ser mulher?

Acho mágico, acho divino. Nossa capacidade de criar, de nutrir, de proteger. Já achei injusto, mas nunca ruim. Ainda acho injusto. O que mais me pega hoje em dia (por causa do meu momento de vida) é como a mulher e o homem divorciados e com filhos são tratados diferentes. O homem é visto como o bom partido, responsável, mesmo sem ninguém saber se é bom pai, bom ex-marido. Já a mulher é o último biscoito do pacote, aquele quebrado e sem recheio que as pessoas vão deixando. Mulher com filho é sempre vista como o pior partido, acham que está sempre desesperada pra achar alguém e nunca é nada disso. São as mais fortes, resilientes, as que matam no peito e fazem o mundo acontecer.

REFLETE: Vi seu post sobre ter sido sempre ligada ao controle de peso e agora estar desencanada, se sentindo bem. Nesse mesmo post você fala do blog da Marina Cyrne e das dicas de jeans. Achei muito bacana, porque acho que o feminino também é isso: se perceber, se posicionar, falar.

Sim, o empoderamento só é possível quando há autoestima. Se a pessoa está se sentido feia, mau quista, inadequada, ela acredita nas bobagens que os outros falam, se importa em pertencer, em ser igual à maioria para ser aceita, compra o que o mercado da insegurança vende.

Gente sem autoestima é presa fácil. É a partir do momento que você se dá valor que percebe o quão cruel é isso. Eu demorei mais da metade da minha vida para perceber e hoje tento ajudar quem eu vejo que ainda está nesse calabouço social da insegurança. Quantas mulheres estão presas em relacionamentos ruins por que não se acham capazes o suficiente? Ou bonitas? Ou magras? Ou capazes de serem felizes sozinhas? De acharem parceiros melhores? É preciso ver o valor em si para poder ver o valor dos seus semelhantes ou de quem é diferente. Temos que treinar e levantar a própria bandeira antes de conseguir aguentar o peso da bandeira do coletivo.

Cada mulher que passa na minha vida, eu olho. Escuto. Aprendo. Dialogo. Amplio. E olho de novo. Cada uma me traz uma nova força, um movimento, uma vontade e muitas certezas. A série OLHA PRA VOCÊ espelha essas mulheres, que contam suas histórias, em diferentes expressões e formas.

--

--

No responses yet