Quando me apaixonei por uma batata doce roxa

REFLETE
2 min readMay 25, 2020

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Comer com os cinco sentidos

Foto do Rodrigo Cavassoni para o Coma como uma garota

Teve um dia que me apaixonei por uma batata doce roxa. Roxo é minha cor preferida e ver aquele legume na minha frente, fresco, me deu um negócio nos olhos e no estômago, uma alegria. Ele virou pão, virou acompanhamento, foi feliz pra água fervente, se jogou no polvilho doce, deu liga com tudo.

Uma das coisas que comprovei nessa quarentena é que cozinhar sem amor não funciona. As coisas ficam sem gosto. A gente esquece do limite. Os termômetros não se adequam. Elas ficam cruas ou queimam. Porque amor requer atenção, dedicação, estar ali inteira. E na comida é a mesma coisa. Cozinhar é magia pura. Requer sensibilidade, uma conversa com os ingredientes. Uma vontade de misturar sabores, um tempo pra olhar pra eles, se encantar, provar, refinar. Requer 5 sentidos. Inteiros. E presentes.

Fico com mil reflexões a partir disso. Sobre o tempo que hoje não dedicamos à manufatura e o desconhecimento da trajetória do chega à nossa mesa, até realmente o quanto passamos a nos alimentar melhor, quando colocamos nossa energia em cozinhar pra gente mesma. Essa semana, vi uma live do Intercept com a chef Paola Carosella, onde ela falou sobre o fato de que, quando as mulheres começaram a trabalhar, a parte do “fazer a comida” ficou de lado. E não foi assumida pelos homens ou dividida em casa. Quem tomou esse lugar foi a indústria, trazendo status de “chique” pro “comprar pronto”, causando o que hoje vemos e sentimos mais de perto. Ou seja: cozinhar é necessário. É resistência, fala sobre consumo e cuidado e influencia como conhecemos e nos colocamos no mundo. É saber vital, a ser passado para futuras gerações — assim como todo o papel de quem cuida.

Pra quem quer se apaixonar por essa alquimia, aconselho seguir a musa Tatu Damberg, que abraça a gente a cada post e mostra que não só cozinhar, mas preparar a comida é um ritual. Clica lá e você vai entender aquele lance de “comer com os olhos”. A Nanda Carneiro, com seus doces que mostram que é possível um mundo saboroso sem glúten e sem lactose. E a Natália Rios, que mostra que praticidade também tem beleza.

E você? Como tem sido sua relação com a comida nessa quarentena?

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