Quarentena, dia 50

REFLETE
2 min readMay 4, 2020

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por aqui, vento forte

Passion Wind, por Anna Pronin

Meu cabelo cresceu. Não sei às vezes que dia é. Me sinto cansada, em horários onde eu estaria no pico do rendimento. Me cobro. Lembro que produtividade não é desgaste. Tenho vontade de chorar e muitas vezes isso não acontece.

Pra lembrar que pausa é respiro, todo um banho bem quente no meio da tarde, seguido de uma ducha gelada, aprendizado passado por gerações de alérgicos. Por que estou com tanta rinite? Abro o livro da Louise Hay e ela me lembra que alergias têm a ver com a “irritação mediante atitude dos outros”. Faz sentido. Tenho me irritado. Quem burla essa quarentena pensa o quê? E quem não pensa no outro pensa em quem? Abro o livro de novo. Segundo ela, tem a ver também com negação do próprio poder. Essa parte não entendi, a ver. Fala também que asma tem a ver com contenção de choro. Realmente, preciso desaguar mais.

Tem algo preso, procuro soltar.

Penso no meu pai e no que ele agora estaria achando desse momento — e de várias outras coisas, como as tecnologias (zoom, por exemplo), coisa que ele sempre gostou. Ainda me dá uma saudade e uma agonia quando lembro que ele morreu de um dia pro outro, dormindo. Acho isso de dormir e acordar em outro plano a morte mais “bom karma” que tem, é quase místico esse adeus sem sofrer e sem adiamento. Mas, penso agora em tudo que pode ir embora de um dia pro outro. Me arrepio. Daí, vejo o quanto essa associação do susto, do repentino e fatal me acomete em ansiedades, quando não sei me desvencilhar de gatilhos. Me afasto deles, lembro que a verdade do nosso espírito é nossa, não devemos deixar qualquer coisa que não nos ressone se instaurar.

Respiro de novo.

Olha que coisa. Tenho essa necessidade de sentir o vento entrando por tudo que é lugar. Janela, nas minhas frases. No meu corpo.

Tenho me concentrado muito no que sinto, em como meu corpo responde, em não criar confusões, em não entrar em processos de discussão ou raiva, em não alimentar o que me destroi, em ficar em silêncio. Tenho tentado dissolver meu cansaço, com massagens, usando aquelas bolinhas usadas em fisioterapia, às vezes só com os dedos. E com chás. De manhã, gengibre. À noite, camomila ou erva doce.

Tenho pensado nas minhas dinâmicas. Nos retornos. No que precisa voltar. No que precisa ir. No quanto a (nossa) verdade precisa ser mais gentil.

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